A psicopedagoga Pâmela Bentivi compartilhou em sua
página pessoal no site de relacionamento Facebook, fotos de momentos dela com o
menor Charles Neves de Sousa, 14 anos de idade, encontrado morto em um matagal
no bairro Trizidela, onde ele morava.
O fato ocorrido na tarde da última sexta-feira (15) deixou
a população bacabalense triste e perplexa. O corpo de Charles estava envolto em
um pano e enterrado em cova rasa. Exames feitos no cadáver constataram cerca de
14 golpes feitos de arma branca.
Charles foi aluno de Pâmela no Jardim de Infância Maneco
Mendes que, por ironia do destino, usou na época (2008) como tema do desfile de
7 de Setembro o seguinte questionamento: “COMO SERÁ O AMANHÃ?”.
8 anos depois, pelo menos no caso de Charles, sabemos que não haverá o amanhã. Como diz Pâmela Bentivi em sua homenagem, Charles foi vítima de uma sociedade que pouco oferece aos jovens, e por falta de uma estrutura familiar sólida, acabam sendo seduzidos pelo fatídico caminho do crime!
“... meu
aluno na educação infantil, era apenas uma criança carente de carinho e
atenção. Fiz tudo que eu pude pra lhe dar atenção e saber, mas ele foi mais uma
vítima de uma sociedade que pouco oferece aos jovens, e por falta de uma
estrutura familiar sólida, acabam sendo seduzidos pelo fatídico caminho do
crime!
Meu coração chora em saber que você Charles, teve um fim
tão triste! Tia te ama!
Minutos
após essa postagem ir ao ar, a assistente social Paola Vergara prestou sua
homenagem ao adolescente Charles.
Agora entendo porque essa morte me afetou tanto.
Mudou tanto que eu quase não o reconheci. Mas o meu coração reconheceu. Charles foi uma criança que não teve
referência familiar solida e teve muito menos uma referência religiosa. Foi uma
criança que cresceu carente de amor e carinho numa realidade com a
marginalidade em volta. Uma criança que, por vezes, não tinha sequer uma roupa
digna para vestir. Assim era a criança que conheci em meados de 2008. Uma
criança que tinha um mix de doce e brutalidade.
Brutalidade porque a vida lhe ensinara assim. Doce porque tinha muito amor para
oferecer, pena não ter quem se importasse por receber. Naquela época ele entendeu e aprendeu o que foi
possível ensinar. Pena que não foi possível fazer muito, já que ele tinha que
sair da educação infantil.
Infelizmente a nossa sociedade não dispõe de mecanismos que
ajudem a resgatar jovens como o que Charles se tornou e, associado à realidade
como a que ele estava inserido, acaba por ser mais atrativo viver daquela
forma. Uma pena não termos a chance de nos reencontrar
atualmente e eu poder auxiliá-lo a sair desse caminho, como já aconteceu com
tantos jovens.
Agora, vocês devem se perguntar: o que nós
temos a ver com isso? Observemos como tratamos o outro. Observemos como nos
reportamos aos nossos. Do mesmo jeito que ele enveredou por esse caminho,
alguém de dentro de nossas casas tbm pode enveredar. É opcional? É! Mas a realidade vivenciada no
dia a dia influência até mesmo os que se acham fortes demais para cair. Então,
faço um pedido: Vejo muitos criticarem e mostrarem concordar com o que fizeram
com ele por conta do caminho que ele decidiu seguir. Em vez disso, peço que
rezemos por ele para que ele encontre a luz.
Rezemos por nós também, para que um dia não
sejamos intimamente afetados por esse mal que, infelizmente, consome a nossa
sociedade. Mas, rezemos principalmente por aqueles que ainda enveredam por este
caminho, para que encontrem o caminho correto a seguir e tenham chance de um
futuro melhor.
Charles, hoje pedirei a Deus que te perdoe e te
acolha. Vou sempre se lembrar daquele menino traquino de coração enorme, que
amava sumir da sala de aula para ir ao meu encontro conversar e tirar fotos.
Descanse em paz.