Editorial do Jornal Pequeno
“Nunca diga nunca”, afirma o verbete poético, mas se há uma novidade jamais vista no Maranhão essa é o combate à corrupção. Homens poderosos, podres de ricos, desfilaram, ontem [18/11], diante dos holofotes da imprensa, todos com a prisão preventiva decretada e capturados em suas residências pela Polícia Civil do Estado. E é o mesmo estado no qual a corrupção nos órgãos públicos incorporou-se aos costumes, como regra, ou mesmo lei da administração.
Ser corrupto no
decorrer do sarneisimo era quase uma
virtude, uma apoteose que, além de status, conferia a autoridade permitida pelo
uso e abuso do vil metal. Corruptos
davam carteiradas, desafiavam
barreiras policiais, impunham suas vontades nos cartórios, tinham seus
protegidos e se protegiam sob o manto da impunidade e da degenerescência institucional.
Aqueles dos homens presos eram os semblantes dos donos de apartamentos e carros
de luxo, helicópteros, lanchas, iates, de viajantes do mundo, embora que para
manter suas vidas nababescas, alguém, alguma criança ficasse sem a merenda
escolar, o alimento do dia, ou algum doente gritasse sem socorro à falta de
remédios.
O animus do
maranhense se eleva com a postura adotada pelo governador Flávio Dino de
organizar as instituições públicas para combater a corrupção. Foi criada a
Secretaria de Transparência e Controle e, no âmbito da Secretaria de Segurança,
a Superintendência de Combate à Corrupção. E esta operação não tratou apenas de
condução coercitiva e busca e apreensão. Há prisões preventivas decretadas, há
uma ação penal em curso e, na parceria da Secretaria de Segurança com o
Ministério Público, a determinação de devassar as prefeituras submetidas a esse
escamoso processo de agiotagem.
Algumas palavras
pronunciadas pelo secretário Jeferson Portella elevam ainda mais o animus de
uma sociedade historicamente compungida por atos de improbidade. Quando, por
exemplo, aponta a covardia e a crueldade ao afirmar que “a ânsia vampiresca por
aumentar patrimônios está surrupiando o dinheiro da merenda escolar e da saúde
e que, portanto, não basta prender corruptos, é preciso combater as estruturas
da corrupção.
Estava ali, sem
dúvida, uma polícia vitoriosa, sã, cônscia de seus deveres para a com a
sociedade saqueada do Maranhão. Insistentemente, o secretário de segurança
refletiu que “Bandido é bandido, não importa o sobrenome, nem o patrimônio que
detém”. Ele, assim, conforta o estado da mesma forma que a “Operação Lava Jato”
conforta o país. E quando afirma que a violência é consequência dos índices
alarmantes de corrupção, está denunciando que a corrupção cria os famintos, os
rejeitados, os revoltados e raivosos numa proporção que muitos poucos podem
perceber.
Os fios se
entrelaçaram, da Polícia Federal na Secretaria da Saúde, do Ministério Público
e da Polícia Civil no enfrentamento da agiotagem e um curto circuito na
corrupção acendeu nesse Estado novas luzes de esperança. E é a esperança de um
dia sem crianças famintas, sem doentes sem socorro para que alguns vivam como
reis.
Queimam-se as
lâmpadas da impunidade para que viceje nessa terra uma nova mentalidade no
trato com a coisa pública. Os corruptos pensarão duas vezes antes de enfiar as
mãos no dinheiro do povo, pois sabem que um Ministério Público vigilante e uma
Polícia Civil livre para agir também contra os poderosos estarão à espreita.
Assim sendo, já é possível sonhar com um futuro de grandes ousadias sociais no
qual a desgraça dos pobres não seja o alimento dos ricos.