Informa Maranhão

Contato: (99) 982173212 - WhatsApp

CORONA

24 de fev. de 2015

Bacabal na rota do primeiro motociclista a percorrer a Transamazônica com uma moto, em 1976

Na longa narrativa Gau cita momentos especiais que viveu durante o tempo que rodou 23.285 km nas estradas brasileiras com sua Harley-Davidson e se tornou o primeiro motociclista a percorrer a Transamazônica com uma moto.
A história
Maio de 1976
Em um determinado trecho da história, que teve início em São Paulo-SP, às 11 horas do dia 11 de maio de 1976, na porta da redação da Revista Duas Rodas Motociclismo, seguindo pela Rodovia Presidente Dutra, rumo ao Rio de Janeiro, debaixo de chuva, Gau cita detalhes de sua passagem por Fortaleza-CE, Teresina-PI e nossa Bacabal, onde manteve contatos com o médico Dr. Pedro Filho e o fazendeiro Cesário Mariz Maia. Leia abaixo.
Fortaleza-CE
[...] Às 7 da manhã estou pronto para partir e chegar a tempo de ver as tangas de Fortaleza. Às 13h40 chego à avenida Beira-Mar, em Fortaleza, e fico com os olhos limpos da poeira, de tanto ver tanga. Em minutos, recebo vários convites para tomar cerveja nos bares da praia. Sentei na mesa do inspetor Salles, da Polícia Rodoviária, que pilota uma Harley há 15 anos.
Depois, procuro uns amigos para quem tinha montado uma fábrica de gelo, há alguns anos, e eles resolvem pagar a conta do hotel. Ando muito pela cidade, que tem as praias cheias de barbatanga ( tanga feita de barbante ).
Passo oito dias na capital de mulheres mais lindas do Nordeste e vou para Teresina. Durmo num hotel, numa cidade chamada Piripiri, interior do Piauí, acordo cedo e vou para Teresina.
Nestes últimos 200 Km, nunca vi tantos jericos (burricos), bodes, gado, carneiros, no meio da pista, principalmente neste horário de 7 da manhã, quando o gado procura melhor pasto.
Reclamo para o pessoal da Polícia Rodoviária, que tem carro-gaiola para recolher animais na pista, me dizem que não adianta recolher porque é gado de gente pobre. Eu falo que não precisa mentir, porque pobre não tem gado Nelore ou Gir e muito menos 500 cabeças de ovelhas. A BR 101 no trecho São Paulo - Curitiba tem fama de ser uma estrada perigosa por causa do segundo trecho em construção. Mas eu digo que não tem estrada mais perigosa que este trecho de Piripiri a Teresina. Na Belém-Brasília, é só comunicar que tem gado na estrada que sai um caminhão para recolher.
Teresina-PI
Entro em Teresina às nove horas, procurando gasolina azul, e acho um pouco da verde. Sou notícia no jornal O Dia, conheço a Miss Piauí, acho a cidade com um trânsito muito educado, muito limpa e organizada. As noites de Teresina são calmas e o movimento termina às 22 horas.
Bacabal-MA
Assim, vou saindo da cidade, rumo a Bacabal, Maranhão, com uma carta de uma turma de Fortaleza para um médico/motoqueiro da cidade. Mas ele está de plantão e vou dormir. Acordo com a cidade alvoroçada pela moto. Incrível, mas verdade: encontro um rapaz que estava cuidando da Harley desde às seis da manhã, esperando que eu acordasse. Ele pergunta se eu uso gasolina azul e verde misturada, digo que sim. Ele informa que tem 20 litros e vai me arranjar. Saio com ele para encontrarmos o médico Pedro Brito e um motoqueiro do Banco do Brasil.
Almoçamos, depois todos andam na moto. O rapaz que me esperou, o Cesário, tem uma Honda 250 Cross, que está em São Luís para vender - vai comprar uma maior. Cesário está empolgado com a Harley, vai buscar a gasolina a 27 quilômetros, em sua fazenda e, quando volta, me autoriza a dar seu endereço a todos os motoqueiros do Brasil, pois sua fazenda servirá de repouso a quem passa por lá. Só não admite que fiquem menos de dois dias. Ele informa que a fazenda tem quartos para alojar, no mínimo, com pouco conforto, 30 motoqueiros de uma vez. O endereço: Cesário Mariz Maia – Caixa Postal 5 – Bacabal – Maranhão.
São Luis-MA
Vou agora para São Luís, onde chego às 2h30 da manhã. Como as ruas são muito estreitas, fico com medo pela moto e vou ao quartel da Polícia Militar pedir para guardar a Harley. Depois de perguntas, a moto fica no pátio e vou para o hotel. Acordo às 11 e entro na Honda Moto-Sport, onde conheço Moisés, o gerente, e Benedito, um sócio. Procuro a corrente da Honda 750, pois a minha está no fim, assim como o dinheiro. Sou então convidado a ficar quatro dias em São Luís, como convidado da Honda Moto-Sport. Uns 10 motoqueiros andaram na Harley, querem por toda força os decalques da Duas Rodas que estão no para-brisas da moto. No sábado, o jornal dá uma grande notícia sobre minha viagem. Conheço todas as praias de São Luís, a cerveja Cerpinha, caranguejos de todos os tipos, caldo de peixe e camarão...
Hoje é segunda–feira. Quando eu estiver longe de São Luís, os motoqueiros da cidade vão se reunir com o diretor do Detran desta capital, para se organizarem, ver os problemas das placas das motos, que o Detran não tem para entregar, e a carteira de habilitação. Na cidade, poucos têm carta e o Detran vai fazer exame para todos de uma vez e sem burocracia. Por insistência minha, a turma também vai fundar um clube de moto.
Às 3h20 da manhã chego a Castanhal...
[...] Cheguei a Manaus no dia 23 de junho de 1976, depois de uma viagem que durou quatro meses e quatro dias. Gastei 32 mil cruzeiros, contando com a venda do equipamento da moto. Levei oito quedas e saí arranhado em apenas uma. Conversei com mais de três mil pessoas.
Hoje é 27 de junho de 1976. Já estou trabalhando, começando tudo de novo, pois só tenho a esposa, as filhas Daniela e Paula e uma moto Harley Davidson 1976 que parece 1940 (toda arranhada, faltando farol e piscas).

E tenho, também, a honra de ter feito a maior viagem de moto dentro do Brasil e de ter sido o primeiro motociclista a cruzar a Transamazônica. O velocímetro de minha moto entrou em Manaus marcando 13.241 milhas, o que significa 21.185 Km, mais 2.100 Km pelo rio Amazonas, o que dá um total de 23.285 Km percorridos dentro do Brasil. LEIA A HISTÓRIA NA ÍNTEGRA.